sábado, 24 de novembro de 2012

O Eixo [Parte 01] - Os Aspectos Futebolísticos

Existe, como todos devem saber, a velha lenda do favorecimento aos times do famigerado eixo Rio-São Paulo. E, é claro, o nome desse blog faz uma referência direta a isso. Um oportunismo, talvez, dada a desconfiança que se criou em cima do título conquistado pelo Fluminense esse ano, onde muitos enxergaram um óbvio favorecimento da arbitragem ao longo do campeonato, sobretudo no segundo turno.

Não é a primeira vez que temos times de fora do eixo, e aqui dou destaque aos quatro grandes clubes que se encontram fora de Rio e São Paulo, bater na trave e deixarem o título escapar por pouco. Essa situação vem se repetindo ao longo da história do campeonato brasileiro. Na era de pontos corridos o Cruzeiro foi o único time que conquistou o título, isso quando essa história toda começou, em 2003. Era um time fantástico, vale ressaltar, que não deu margens para a possibilidade de favorecimento, mantendo uma constância assustadora ao longo de todo o campeonato. Um feito que, temo, pode não se repetir nos anos vindouros.

                                        Cruzeiro de 2003 foi o último campeão fora do Eixo Rio-São Paulo

Para entender que não se trata apenas de paranoia, é só dar uma olhada nos campeonatos disputados desde então. De 2004 a 2012 apenas times de Rio e São Paulo foram campeões. Mas o que chama a atenção é a grande quantidade de vice-campeões oriundos de estados fora do eixo.

2004 - Santos/campeão, Atlético Paranaense/vice
2005 - Corinthians/campeão, Internacional/vice
2006 - São Paulo/campeão, Internacional/vice
2007 - São Paulo/campeão, Santos/vice
2008 - São Paulo/campeão, Grêmio/vice
2009 - Flamengo Campeão, Internacional/vice
2010 - Fluminense Campeão, Cruzeiro/vice
2011 - Corinthians/campeão, Vasco/vice
2012 - Fluminense/campeão, o vice será Grêmio ou Atlético Mineiro

Ou seja, em 9 anos tivemos 7 vice-campeões de fora do Eixo.

Acredito que todos estão familiarizados com o Ranking de Pontos do Campeonato Brasileiro. Esse ranking simplesmente soma todos os pontos conquistados pelos clubes participantes, mas considerando apenas os Campeonatos Brasileiros pré-unificação (ou seja, aqueles que ocorreram pós 1970, e cujo Atlético Mineiro foi o primeiro campeão, em 71).  Engraçado é notar que nesse ranking Internacional e Cruzeiro aparecem, respectivamente, em segundo e terceiro lugar (com o São Paulo em primeiro). Engraçado notar que esses 3 times são, também, os que mais pontuaram ao longo da era de pontos corridos. As mudanças só começam a ocorrer após o quarto colocado.


Se considerarmos os campeonatos internacionais veremos que os times de fora do eixo se dão tão bem quanto os de Rio e São Paulo. Cruzeiro, Inter e Grêmio possuem, cada um, 2 títulos da Libertadores e só são superados por Santos (que conquistou 2 na indiscutível Era Pelé) e São Paulo (que, sem sombra de dúvidas, tornou-se o maior time do Brasil nos últimos 20 anos). 

Outro dado interessante: sabiam que dentre os grandes clubes brasileiros o Flamengo foi o que menos vezes esteve dentre os quatro primeiros colocados no Campeonato Brasileiro? Foram 8 vezes, sendo que foram campeões em 6 ocasiões. Isso é que é aproveitamento, em? Aliás, se formos considerar as vezes em que ficaram dentre os 4 primeiros, Cruzeiro, Atlético, Grêmio e Inter superam os 4 grandes do Rio, tanto individualmente quanto se somados (temos um empate dentre Atlético-MG e Fluminense, cada um ficando 14 vezes dentre os 4 primeiros).

Bem, eu não sei se existe ou não favorecimento. Temos muitos indicadores, é claro, mas ao mesmo tempo sabemos que os times do eixo recebem mais investimento, conseguem fechar parcerias poderosas e possuem uma fatia mais gorda das cotas televisivas. Ou seja, são capazes de investir mais pesado em seus times. Os times de fora do eixo, entretanto, possuem melhor estrutura e tendem a ser mais organizados politica e economicamente. Óbvio que existem exceções, o São Paulo, por exemplo, conseguiu, por anos, unir grandes investimentos a uma excelente estrutura e, não atoa, tornou-se o time mais vitorioso do país. O Fluminense, por sua vez, mesmo com grandes investimentos da Unimed, possui uma estrutura precária, e ainda assim venceu dois campeonatos nos últimos 3 anos.

Eu nasci e cresci em Minas Gerais, e é assustador perceber aqui o poder que a mídia do eixo possui no país  Na medida em que você vai se distanciando de Belo Horizonte, torcedores de times do eixo tornam-se cada vez mais numerosos. Nas regiões mais afastadas do estado, como no Triangulo, torcedores dos times mineiros chegam a ser minoria! Minas Gerais possui mais habitantes que o estado do Rio, mas mesmo assim perdemos em torcida pros times de lá. A única coisa que nos salva de ver nascer um Real Madrid vs Barcelona (representados, talvez, por Corinthians e Flamengo) é o histórico de más administrações desses dois clubes, penso eu. 

Mas, aí, eu digo que esse tipo de favorecimento (o financeiro) é tão grave ou até pior que o favorecimento de arbitragem. Eu não acho que arbitragem ganhe jogo, pra ser bastante honesto. A arbitragem definitivamente influência, ela favorece um time. Mas em um campeonato de pontos corridos o que determina o campeão é a constância, é a soma de uma infinidade de fatores. Tomemos por exemplo o campeonato desse ano: O Atlético Mineiro empatou e perdeu demais fora de casa, fizeram uma campanha pífia longe de seus domínios. Um bom time, de futebol vistoso e intenso (comum aos times do Cuca), mas pecava demais, sobretudo nas finalizações. Costumo dizer que o jogasso dentre Atlético e Fluminense retrata bem a história do campeonato. O Atlético teve um enorme volume de finalizações, muitas vezes superior ao do Tricolor Carioca. O Fluminense teve duas oportunidades reais de gol, e as converteu. O placar final, 3 a 2, em casa, mostrou sim que o Atlético jogava mais bola, mas mostrou também sua ineficiência frente as traves, e a eficiência de um cara: Fred. E, aí entra a questão financeira, o que diabos Fred foi cheirar nas Laranjeiras? Cara completamente identificado com o Cruzeiro, torcedor confesso, mas ainda assim optou por ir para o time do rio. Grana, obviamente. E como diabos o Fluminense, mesmo com uma torcida menor, consegue melhores parcerias que os times de fora do eixo? Aliás, qual foi a grande parceria fechada dente um clube de fora do eixo? O Palmeira teve a Parmalat, o Flu agora tem o Unimed, Corinthians teve aquela que trouxe o Tevez. Pode-se falar de BMG e Atlético, mas essa é outra história. E o que dizer desse estreitamento de relacionamento dentre o Corinthians e o governo? E o patrocínio milionário que eles receberão da Caixa Econômica Federal a partir de 2013? 

Enfim, não venho aqui responder essas questões, não sei nem bem se elas tem uma resposta. Essa é uma introdução. Uma explicação do porque escolher esse nome pro blog. Mas a ideia aqui é muito maior. É discutir de forma diferente o futebol, com uma visão mais ampla, dando destaque aos times de fora do eixo. E esse eixo do qual tantos falam, pra mim, é um pouco disso que eu falei, esse histórico estranho de superioridade que existe na história dos Campeonatos Brasileiros, mas que se for analisada mais friamente, não faz muito sentido, dado que o desempenho não condiz com os resultados, em MUITAS ocasiões. Mas pretendo também que o blog seja um espaço para discutir outros aspectos do esporte. Sua influência cultural e política, por exemplo. Na verdade, por ser o esporte mais querido do país, acaba que essas coisas se misturam, e o Eixo Futebolístico é apenas um reflexo do Eixo Político e Midiático. Mas essa discussão eu vou deixar para um post futuro (a parte 2 desse aqui).


Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Brasileiro_de_Futebol
http://www.campeoesdofutebol.com.br/brasileiro.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ranking_de_pontos_do_Campeonato_Brasileiro_de_Futebol


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Edit: Duas correções importantes: em primeiro lugar, em relação a Libertadores.

Os times Gaúchos superam significativamente a performance internacional dos times cariocas, que, somados, possuem apenas 2 Libertadores e 1 Mundial. Em Minas, infelizmente, o Galão da Massa adiciona muito pouco a essa briga, mas o Cruzeiro segura bem a briga sozinho, com seus dois títulos. Não temos, infelizmente, um mundial. O estado de São Paulo, entretanto, é poderoso internacionalmente. São 8 Libertadores, no total, e 6 Mundiais (considerando o vencido pelo Corinthians).

Em segundo lugar, em relação a estrutura e organização política.

Os times de São Paulo são muito bem estruturados, de forma geral. Santos tem uma indiscutível base, que revela jogadores fantásticos de tempos em tempos. Mesmo o Palmeiras tem uma excelente estrutura, embora seja meio bagunçado politicamente. Corinthians tem se organizado muito bem e dá sinais de que pode se tornar a maior potência do futebol nacional, sobretudo pela fraca atuação do questionado Juvenal Juvêncio, que parece ter perdido os rumos vitoriosos do São Paulo (embora o time venha bem nesse segundo semestre). Os times cariocas, entretanto, são uma bagunça politicamente e possuem estrutura precária. Patrícia Amorim parece ter revitalizado a estrutura social do Flamengo, mas, ao mesmo tempo, possui uma das piores administrações que já vi, em se tratando de futebol. Sinceramente, espero que o Fluminense aproveite melhor a parceria milionária com a Unimed e tente construir algo duradouro para o clube, ou poderá se tornar um Palmeiras da vida.