segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Grenal Melancólico


Minha primeira contribuição com esse blog será em tom de melancolia. Melancolia essa, que nessa segunda metade de 2012 assolou a mim e toda torcida do Internacional. Tivemos erros que comprometeram o desempenho da equipe dentro de campo e veremos, depois de muito tempo, o ano ser encerrado apenas com a conquista do campeonato estadual e com uma campanha a ser esquecida no nacional.
A direção colorada errou no seu planejamento ao não perceber que os profissionais do departamento médico e da preparação física estão muito aquém do que o clube precisa para ser competitivo, disputando títulos ou ao menos as primeiras colocações. Foram lesões em cima de lesões, vários jogadores importantes com um longo e inexplicável tempo de recuperação, e retornos mal calculados que resultaram em mais um período longe dos gramados.  Outro erro atenuante foi a contratação de estrangeiros acima do limite conhecido, mesmo sabendo que não poderiam ao menos ficar no banco e que dois sempre sobrariam.  Algumas contratações equivocadas também podem ser responsabilizadas pela fraca campanha colorada nesse campeonato, não preciso citar nomes, a torcida já sabe de quem se trata.
Ao longo da competição não posso negar que as convocações também prejudicaram a equipe, caso que o campeão só pôde sentir após ter garantido o título. Quanto ao comando técnico dois erros: o primeiro da direção ao supor que o capitão das maiores conquistas, sem ter experiência nenhuma no cargo, pudesse dar resultado e o segundo do próprio capitão, ao se deixar convencer por tal teoria e ter aceitado a missão. Por fim, a eleição para presidente que ficou na cláusula de barreira sem que o conselho pudesse verificar a vontade dos sócios.
Ontem aconteceu o último jogo no Gigante antes da reforma e foi uma triste despedida. Placar de 2x0 para o visitante, score que só serviu para ao menos manter a simpática Portuguesa na primeira divisão do ano que vem. O time colorado pela quarta vez consecutiva jogou com uma vontade semelhante a que eu teria de ir a um show do Latino. Sem gana, sem raça, sem o ímpeto da vitória e saiu de campo ao som de merecidas vaias da torcida.
Resta-nos ainda nesse esquecível ano de 2012 um último alento, que é vencer o derradeiro encontro com o rival no estádio da Azenha, estádio esse que já serviu de palco para muitos triunfos vermelhos, inclusive o que decretou a última volta olímpica que seria dada nos seus domínios. Claro, que pelo momento dos times, os que vestem tricolor são favoritos, mas sempre fica uma chama de esperança, que pelo menos nesse último embate do ano nossos jogadores queiram ficar na história do futebol gaúcho, como aqueles que ficaram no primeiro Grenal do Olímpico, um sonoro 6x2 a favor do Inter, que queiram ao menos nos dar esse gosto. Qualquer um pode vencer esse clássico, mas o que desejo é que se por ventura formos superados, que pelo menos seja mostrada a torcida, vontade de vencer, coisa que há quatro fins- de –semana não se vê no Beira-Rio. Que venha o clássico e que venha logo 2013.

Clássico é clássico, e vice-versa



A famosa frase dita por Jardel, ex-atacante do tricolor gaúcho, pode parecer idiota a princípio, mas eu ainda acho que é a que melhor resume o sentimento evocado por esse tipo de jogo. Tem aquela história: em clássico não tem favorito. Mas não sei se concordo, é claro que sempre existe favoritismo, afinal dificilmente vemos os grandes rivais jogarem uma competição em pé de igualdade. Mas existe, pra mim, algo que transcende a qualidade técnica em um clássico, algo fomentado pela rivalidade e que traz uma imprevisibilidade ainda maior a essas partidas, superior àquela inerente ao esporte.


Para esse ano vemos uma situação interessante, já que Grêmio e Atlético Mineiro chegam à última rodada com um objetivo muito claro: o vice-campeonato. Depois que o Corinthians perdeu para o Tolima na pré-Libertadores passaram a temer essa pré-fase, que antes era apenas uma viagem a passeio dos times brasileiros, em situação análoga às primeiras fases da Copa do Brasil - pelo menos do jeito que era antes, já que para o ano que vem o regulamento foi alterado. Enfim, a questão é que os dois times vão chegar motivados para a última partida do ano e encontrarão, do outro lado, dois adversários em situações muito parecidas.


Eu não sei ao certo como foi o ano do Inter, como tem reagido sua torcida ao mal momento do time. Aqui em Minas, a torcida não está nem um pouco satisfeita com as pífias atuações do Cruzeiro nos últimos dois anos, embora para um torcedor mais astuto e atento fique claro que esse é um reflexo direto da transição da diretoria, ainda que uns arguam que não ocorreu uma mudança real (já que o Gilvan é um velho aliado dos Perrelas). Mas, ainda assim, a saída do Zezé parece ter deixado algumas coisas a serem acertadas e o novo presidente já promete um ano melhor em 2013. Aliás, para Inter e Cruzeiro me parece que o sentimento é esse: olhos voltados para o ano que vem. Os dois times ocupam a oitava e nona colocação da competição, e uma vitória ou derrota não fará muita diferença no final das contas. Ou seja, faz parecer que chegarão desmotivados para a partida.


Criticar a CBF parece que é algo que une todo torcedor brasileiro. Dificilmente você encontrará um deles abrindo a boca para falar bem da instituição. E eles estão coberto de razão, é uma federação atrasada, corrupta e pouco transparente. Mas tem de se falar também quando fazem algo acertado, mesmo quando trata-se do óbvio e ululante, que já era apontado por todos: colocar os clássicos na última rodada faz desse jogo muito mais interessante, uma grande forma de fechar o ano para a maior parte dos times. Ano passado, por exemplo, tivemos aquela possibilidade do Cruzeiro ser derrubado para a série B pelo rival - que levaram um chocolate de 6 a 1! São situações que só acontecem em clássicos mesmo.


Embora eu veja um claro favoritismo para Grêmio e Atlético nas partidas desse fim de semana, sei que não existe nada definido - é como se diz, só se resolve dentre as quatro linhas. E se na tabela estão em situações semelhantes, a realidade é que vejo o Inter em uma situação pior do que a do Cruzeiro nesse último jogo. Enquanto a equipe azul celeste vem em uma boa sequência, de 3 vitórias, o Inter já acumula 4 derrotas seguidas, troca de técnico e grande insatifação de sua torcida. Aqui em Minas, entretanto, o Clássico será com torcida única, como tem sido nos últimos anos, embora esse trunfo tenha se provado um presente de grego.


Acho pouco provável que os torcedores de outros estados, sobretudo de Rio e São Paulo, entendam a magnitude desses clássicos em Minas e Rio Grande do Sul, sobretudo em suas capitais. Tendo somente esse dois grandes times, com as torcidas polarizadas dentre eles, a rivalidade é intesa e esses jogos se tornam assunto de toda a semana que os antecede. É um bom clima, de ansiedade, porque independente de quão bem vai o seu time, no fundo a gente sabe que qualquer coisa pode acontecer. Pra mim os clássicos são campeonatos a parte e há de se desconsiderar a tabela quando eles acontecem.


Tem também a violência, infelizmente ela é uma constante e uma certeza nessas ocasiões. Cabe ao poder público, por hora, se preparar para isso. Quisera eu poder jogar essa responsabilidade para o torcedor, e eu acho que nesse caso não é uma questão simples de educação pública, como as pessoas costumam relacionar a maioria dos problemas do país (e com razão). Vou voltar a falar disso em breve, mas é um assunto que preciso pesquisar com mais cuidado, se quiser abordar-lo da forma que desejo.


Meus palpites:


Atlético Mineiro x Cruzeiro: Vitória do atlético, embora não vá ser nada fácil. 2 x 1, com gol de desempate no final para euforia da torcida mais chata de Belo Horizonte.


Grêmio x Internacional: Vitória tricolor, tranquila. 2 x 0.


Relembrar é viver

sábado, 24 de novembro de 2012

Curtinhas [1]


"Mamei na Parmalat,
Cresci e fiquei forte,
Meu nome é Palmeiras,
Sou um Guarani com Sorte"

O Eixo [Parte 02] - Os Aspectos Culturais






Futebol é uma paixão nacional. Acho que ninguém aqui duvida disso. É claro que existem pessoas que não gostam do esporte, mas é parte do cotidiano do brasileiro as conversas de botecos sobre a rodada anterior do Campeonato Brasileiro. E um fator que tempera essas discussões é a rivalidade. Ela é ferrenha aqui no país, caso de briga e morte as vezes, mostrando que a gente realmente não tem lá muito controle de nossas paixões. Freud já dizia que os mecanismos de recalque e repressão são consideravelmente reduzidos nos fenômenos de grupo e sabemos que, no caso do futebol, isso é especialmente verdade quando pensamos nas torcidas organizadas, por exemplo.

E aí é que entra a minha maior ressalva em relação ao esporte: torcedores de futebol são quase que essencialmente preconceituosos. Parece que qualquer coisa vale no esforço de provocar o rival, e todos acreditam que possuem uma espécie de carta branca para falar quaisquer tipo de asneiras quando estão em uma discussão com um rival, ou pretendem provocá-lo.  Isso dentro e fora de campo. Tivemos, é claro, uma longa e intensa campanha para tentar banir o racismo do futebol, que continua ainda muito presente, sobretudo na Europa. Mas, ao mesmo tempo, a maior parte da torcida brasileira condena esse tipo de atitude, sobretudo tendo em vista que racismo é um crime previsto por lei. Incrível como as pessoas só realmente encaram um ato como condenável uma vez que a lei o recrimina. É como se a moral fosse ditada pela lei, e não o contrário. Digo isso porque esse é o maior argumento usado pelos torcedores quando eu questiono a forte homofobia presente dentre as torcidas de futebol. Não existe uma única que salve nesse quesito.

Em 2009, quando Cruzeiro e Grêmio se enfrentaram pelas semi-finais da Libertadores, Elicarlos acusou o atacante argentino Maxi Lópes de racismo. Duas coisas me assustaram bastante na ocasião: a resposta das duas torcidas. Destaco aqui que eu acompanhei a repercussão pela maior comunidade dos dois times no Orkut, e deixo claro que eu sei que esse não é o pensamento de toda a torcida dos dois times. Mas o que aconteceu é que eu vi a maior parte da torcida gremista apoiando o argentino, fazendo declarações racistas das mais graves. A torcida do Cruzeiro se enfureceu com a  atitude do argentino e, ainda mais, com o apoio da torcida gremista. E a resposta, por mais assustador que seja, foi também o preconceito. Só que, no caso, a homofobia. O problema é que não foi assustador pra ninguém, só pra mim. Quando fui pontuar isso, que não fazia sentido responder a violência verbal com violência verbal fui execrado no forum. E o argumento mais comum: homofobia não é crime! Fiquei chocado quando percebi que não tinham meios para apelar à razão, pois na mentalidade de todos ali homofobia era uma coisa aceitável e até mesmo encorajado no meio futebolístico. Pergunto aqui: que torcedor aceitaria ter um jogador gay em seu time?


                                     Em 2009, Elicarlos acusou Maxi Lopes de racismo na Libertadores


Todas as torcidas tratam as rivais por apelidos homofóbicos. Cruzeirenses são marias, Atleticanos são frangas, São Paulinos são bambis e por aí vai. Obviamente, é algo que tempera a rivalidade, já que ser tratado pelo gênero feminino é a maior ofensa possível para o torcedor de futebol comum. Mas deveria? Outro dia eu, como cruzeirense que sou fiquei refletindo sobre a razão de ser incomodado de ser chamado de Maria. Será que por me sentir ofendido o sexista da situação era eu? A resposta é... sim! Não deveria me envergonhar de ser chamado assim. Maria é o nome de minha mãe, da minha avó e até mesmo da minha chefe! É um nome de grande importância bíblica, e em um país majoritariamente católico ser chamado assim deveria ser uma honra e não um desaforo. Obviamente que continuarei me incomodando, mesmo porque eu sei que não estou sendo celebrado quando me chamam assim. Mas qual é, de verdade, o problema de ser tratado pelo gênero feminino e porque insistimos nisso? Ora, o motivo é óbvio: mulher não gosta de futebol. O esporte é jogo pra macho. Lembro das peladas (oh, wait!) que jogávamos quando eu era moleque. Quando um cara reclamava de uma falta mais dura já vinha um dizer: "Futebol é jogo pra homem, não aguenta vai brincar de boneca!". Realmente a prática do esporte é mais comum dentre pessoas do sexo masculino. Mas e quanto a torcida? A torcida de uma mulher vale menos do que a torcida de um homem? Quando você aponta no dedo de seu rival e chama ele de Maria você está afirmando isso!

Recentemente uma grande comoção foi criada na Alemanha quando um jogador confessou, de forma anônima, que era gay. Ele foi encorajado pela, pasmem, chanceler alemã a se revelar, que afirmou que o jogador "vive num país em que não tem motivos para recear um `outing", e nós só podemos dizer-lhe que não precisa de ter medo". Recebeu apoio, ainda, do presidente do Bayern de Munique, principal time do pais. Ainda assim, preferiu não se revelar por medo de represálias.

Mais grave ainda é a história do inglês Justin Fashanu, que jogou em times como Norwich City, Nottingham Forest e Manchester City. Ele é o único jogador internacionalmente conhecido por ter assumido ser homossexual durante a carreira profissional e o resultado não foi anda encorajador. Ele sofreu tantas ofensas vindas da arquibancada que acabou cometendo suicídio em 1998, aos 37 anos.

Sua carta de suicídio dizia:

"Me dei conta de que eu havia sido condenado. Não quero mais ser uma vergonha para meus amigos e minha família. (...) Espero que Jesus me dê boas vindas e que eu finalmente encontre a paz."



Esse é um tema que me interessa bastante. Desde 2009 que decidi, nesse episódio do Elicarlos e com a resposta homofóbica da torcida de meu time, ser mais incisivo nas discussões sobre futebol quando declarações homofóbicas aparecessem. Muitas vezes fui tachado de chato, politicamente correto e outras coisas piores por conta disso, mas é uma espécie de missão pessoal que quem já discutiu futebol comigo deve saber que possuo. Exatamente por isso eu devo voltar a esse tópico novamente, em u futuro próximo. Pensar fora do eixo é ser crítico com as posturas preconceituosas da grande maioria dos torcedores de futebol. Estar fora do eixo é abrir mão de continuar repetindo os comportamento cruéis e irrefletidos encorajados pela mídia e elite brasileira. Derrubar o eixo, algum dia, só será possível se pararmos de emitir respostas tão primitivas quando nossas paixões estão envolvidas. Torcer não exige que você deixe seu cérebro de lado, que pare de pensar e que dê vazão ao ódio e preconceito reprimido. Unir-se em grupos enormes e permitir o ódio ao diferente aflorar já aconteceu em outros contextos, e os resultados nunca foram dos melhores.

Fontes:
http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/libertadores/ultimas-noticias/2009/06/25/ult7249u369.jhtm
http://www.ojogo.pt/Futebol/interior.aspx?content_id=2768436
http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2011/08/29/jogadores-gays-nao-deveriam-se-revelar-diz-capitao-alemao-lahm.jhtm



O Eixo [Parte 01] - Os Aspectos Futebolísticos

Existe, como todos devem saber, a velha lenda do favorecimento aos times do famigerado eixo Rio-São Paulo. E, é claro, o nome desse blog faz uma referência direta a isso. Um oportunismo, talvez, dada a desconfiança que se criou em cima do título conquistado pelo Fluminense esse ano, onde muitos enxergaram um óbvio favorecimento da arbitragem ao longo do campeonato, sobretudo no segundo turno.

Não é a primeira vez que temos times de fora do eixo, e aqui dou destaque aos quatro grandes clubes que se encontram fora de Rio e São Paulo, bater na trave e deixarem o título escapar por pouco. Essa situação vem se repetindo ao longo da história do campeonato brasileiro. Na era de pontos corridos o Cruzeiro foi o único time que conquistou o título, isso quando essa história toda começou, em 2003. Era um time fantástico, vale ressaltar, que não deu margens para a possibilidade de favorecimento, mantendo uma constância assustadora ao longo de todo o campeonato. Um feito que, temo, pode não se repetir nos anos vindouros.

                                        Cruzeiro de 2003 foi o último campeão fora do Eixo Rio-São Paulo

Para entender que não se trata apenas de paranoia, é só dar uma olhada nos campeonatos disputados desde então. De 2004 a 2012 apenas times de Rio e São Paulo foram campeões. Mas o que chama a atenção é a grande quantidade de vice-campeões oriundos de estados fora do eixo.

2004 - Santos/campeão, Atlético Paranaense/vice
2005 - Corinthians/campeão, Internacional/vice
2006 - São Paulo/campeão, Internacional/vice
2007 - São Paulo/campeão, Santos/vice
2008 - São Paulo/campeão, Grêmio/vice
2009 - Flamengo Campeão, Internacional/vice
2010 - Fluminense Campeão, Cruzeiro/vice
2011 - Corinthians/campeão, Vasco/vice
2012 - Fluminense/campeão, o vice será Grêmio ou Atlético Mineiro

Ou seja, em 9 anos tivemos 7 vice-campeões de fora do Eixo.

Acredito que todos estão familiarizados com o Ranking de Pontos do Campeonato Brasileiro. Esse ranking simplesmente soma todos os pontos conquistados pelos clubes participantes, mas considerando apenas os Campeonatos Brasileiros pré-unificação (ou seja, aqueles que ocorreram pós 1970, e cujo Atlético Mineiro foi o primeiro campeão, em 71).  Engraçado é notar que nesse ranking Internacional e Cruzeiro aparecem, respectivamente, em segundo e terceiro lugar (com o São Paulo em primeiro). Engraçado notar que esses 3 times são, também, os que mais pontuaram ao longo da era de pontos corridos. As mudanças só começam a ocorrer após o quarto colocado.


Se considerarmos os campeonatos internacionais veremos que os times de fora do eixo se dão tão bem quanto os de Rio e São Paulo. Cruzeiro, Inter e Grêmio possuem, cada um, 2 títulos da Libertadores e só são superados por Santos (que conquistou 2 na indiscutível Era Pelé) e São Paulo (que, sem sombra de dúvidas, tornou-se o maior time do Brasil nos últimos 20 anos). 

Outro dado interessante: sabiam que dentre os grandes clubes brasileiros o Flamengo foi o que menos vezes esteve dentre os quatro primeiros colocados no Campeonato Brasileiro? Foram 8 vezes, sendo que foram campeões em 6 ocasiões. Isso é que é aproveitamento, em? Aliás, se formos considerar as vezes em que ficaram dentre os 4 primeiros, Cruzeiro, Atlético, Grêmio e Inter superam os 4 grandes do Rio, tanto individualmente quanto se somados (temos um empate dentre Atlético-MG e Fluminense, cada um ficando 14 vezes dentre os 4 primeiros).

Bem, eu não sei se existe ou não favorecimento. Temos muitos indicadores, é claro, mas ao mesmo tempo sabemos que os times do eixo recebem mais investimento, conseguem fechar parcerias poderosas e possuem uma fatia mais gorda das cotas televisivas. Ou seja, são capazes de investir mais pesado em seus times. Os times de fora do eixo, entretanto, possuem melhor estrutura e tendem a ser mais organizados politica e economicamente. Óbvio que existem exceções, o São Paulo, por exemplo, conseguiu, por anos, unir grandes investimentos a uma excelente estrutura e, não atoa, tornou-se o time mais vitorioso do país. O Fluminense, por sua vez, mesmo com grandes investimentos da Unimed, possui uma estrutura precária, e ainda assim venceu dois campeonatos nos últimos 3 anos.

Eu nasci e cresci em Minas Gerais, e é assustador perceber aqui o poder que a mídia do eixo possui no país  Na medida em que você vai se distanciando de Belo Horizonte, torcedores de times do eixo tornam-se cada vez mais numerosos. Nas regiões mais afastadas do estado, como no Triangulo, torcedores dos times mineiros chegam a ser minoria! Minas Gerais possui mais habitantes que o estado do Rio, mas mesmo assim perdemos em torcida pros times de lá. A única coisa que nos salva de ver nascer um Real Madrid vs Barcelona (representados, talvez, por Corinthians e Flamengo) é o histórico de más administrações desses dois clubes, penso eu. 

Mas, aí, eu digo que esse tipo de favorecimento (o financeiro) é tão grave ou até pior que o favorecimento de arbitragem. Eu não acho que arbitragem ganhe jogo, pra ser bastante honesto. A arbitragem definitivamente influência, ela favorece um time. Mas em um campeonato de pontos corridos o que determina o campeão é a constância, é a soma de uma infinidade de fatores. Tomemos por exemplo o campeonato desse ano: O Atlético Mineiro empatou e perdeu demais fora de casa, fizeram uma campanha pífia longe de seus domínios. Um bom time, de futebol vistoso e intenso (comum aos times do Cuca), mas pecava demais, sobretudo nas finalizações. Costumo dizer que o jogasso dentre Atlético e Fluminense retrata bem a história do campeonato. O Atlético teve um enorme volume de finalizações, muitas vezes superior ao do Tricolor Carioca. O Fluminense teve duas oportunidades reais de gol, e as converteu. O placar final, 3 a 2, em casa, mostrou sim que o Atlético jogava mais bola, mas mostrou também sua ineficiência frente as traves, e a eficiência de um cara: Fred. E, aí entra a questão financeira, o que diabos Fred foi cheirar nas Laranjeiras? Cara completamente identificado com o Cruzeiro, torcedor confesso, mas ainda assim optou por ir para o time do rio. Grana, obviamente. E como diabos o Fluminense, mesmo com uma torcida menor, consegue melhores parcerias que os times de fora do eixo? Aliás, qual foi a grande parceria fechada dente um clube de fora do eixo? O Palmeira teve a Parmalat, o Flu agora tem o Unimed, Corinthians teve aquela que trouxe o Tevez. Pode-se falar de BMG e Atlético, mas essa é outra história. E o que dizer desse estreitamento de relacionamento dentre o Corinthians e o governo? E o patrocínio milionário que eles receberão da Caixa Econômica Federal a partir de 2013? 

Enfim, não venho aqui responder essas questões, não sei nem bem se elas tem uma resposta. Essa é uma introdução. Uma explicação do porque escolher esse nome pro blog. Mas a ideia aqui é muito maior. É discutir de forma diferente o futebol, com uma visão mais ampla, dando destaque aos times de fora do eixo. E esse eixo do qual tantos falam, pra mim, é um pouco disso que eu falei, esse histórico estranho de superioridade que existe na história dos Campeonatos Brasileiros, mas que se for analisada mais friamente, não faz muito sentido, dado que o desempenho não condiz com os resultados, em MUITAS ocasiões. Mas pretendo também que o blog seja um espaço para discutir outros aspectos do esporte. Sua influência cultural e política, por exemplo. Na verdade, por ser o esporte mais querido do país, acaba que essas coisas se misturam, e o Eixo Futebolístico é apenas um reflexo do Eixo Político e Midiático. Mas essa discussão eu vou deixar para um post futuro (a parte 2 desse aqui).


Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Brasileiro_de_Futebol
http://www.campeoesdofutebol.com.br/brasileiro.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ranking_de_pontos_do_Campeonato_Brasileiro_de_Futebol


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Edit: Duas correções importantes: em primeiro lugar, em relação a Libertadores.

Os times Gaúchos superam significativamente a performance internacional dos times cariocas, que, somados, possuem apenas 2 Libertadores e 1 Mundial. Em Minas, infelizmente, o Galão da Massa adiciona muito pouco a essa briga, mas o Cruzeiro segura bem a briga sozinho, com seus dois títulos. Não temos, infelizmente, um mundial. O estado de São Paulo, entretanto, é poderoso internacionalmente. São 8 Libertadores, no total, e 6 Mundiais (considerando o vencido pelo Corinthians).

Em segundo lugar, em relação a estrutura e organização política.

Os times de São Paulo são muito bem estruturados, de forma geral. Santos tem uma indiscutível base, que revela jogadores fantásticos de tempos em tempos. Mesmo o Palmeiras tem uma excelente estrutura, embora seja meio bagunçado politicamente. Corinthians tem se organizado muito bem e dá sinais de que pode se tornar a maior potência do futebol nacional, sobretudo pela fraca atuação do questionado Juvenal Juvêncio, que parece ter perdido os rumos vitoriosos do São Paulo (embora o time venha bem nesse segundo semestre). Os times cariocas, entretanto, são uma bagunça politicamente e possuem estrutura precária. Patrícia Amorim parece ter revitalizado a estrutura social do Flamengo, mas, ao mesmo tempo, possui uma das piores administrações que já vi, em se tratando de futebol. Sinceramente, espero que o Fluminense aproveite melhor a parceria milionária com a Unimed e tente construir algo duradouro para o clube, ou poderá se tornar um Palmeiras da vida.