domingo, 16 de dezembro de 2012

Por um liga mais justa!

Hoje o Corinthians tornou-se bi-campeão mundial. Muitos vão arguir que esse, na verdade, é o primeiro título, já que o do ano 2000 não deveria ser considerado. Nessa linha de raciocínio fica difícil dizer quais títulos são ou não válidos. Afinal, recentemente a CBF promoveu a unificação dos títulos nacionais pré-campeonato de 71, e até hoje se discute se devemos ou não considerar esses títulos. A história toda é uma grande bobagem, afinal para todo torcedor o título conquistado pelo seu time é válido enquanto o certo é que todos os rivais vão questioná-lo. "Vocês venceram porque foi contra o Chelsea, se fosse o Barcelona teriam perdido", muita gente diz. Será? Afinal, o próprio Chelsea venceu o time mais badalado do mundo, que foi justamente o que o levou ao mundial. Enfim, a Fifa diz que o Corinthians é bi-campeão, a CBF diz que o Corinthians é bi-campeão, quem sou eu pra contestar, então?

Mas aí muitos vão vir dizer: "mas a CBF favorece demais o Corinthians, é claro que vão dizer que são campeões". Pois é, isso é bem verdade. Os caras deram um título para eles em 2005, tentaram dar outro título para eles em 2010 (que, ainda assim, foram incapazes de ganhar), deram um estádio para eles e, agora, estão dando um patrocínio milionário vindo de um órgão público. Há de se destacar aqui que a Caixa é, na verdade, uma empresa pública, com patrimônio próprio e autonomia administrativa. Hoje eu afirmo que os dois maiores clubes do país encontram-se em São Paulo. E eu afirmo isso tendo por critérios uma série de fatores: torcida, títulos, estrutura e, mais importante, poder econômico. São Paulo e Corinthians são os clubes de maior sucesso nos últimos 10 anos, tendo vencido todos os títulos importantes que disputam. Não adianta chiar, todos os outros clubes do país correm por fora. Temos, obviamente, outros times que conseguem figurar bons trabalhos, como o Cruzeiro que em 2009 e 2010 chegou bem nas duas principais competições que disputa, o Inter que vencer a Libertadores de 2010 e o Santos, que venceu a Libertadores em 2011. Temos ainda o Fluminense, que conquistou dois brasileiros nos últimos 3 anos, time que tornou-se poderoso graças a parceria com a Unimed, que o permite disputar de igual pra igual com os dois paulistas. O Atlético ensaia um ressurgimento no cenário, mas vamos acompanhar pra ver se o trabalho feito em 2012 se repetirá em 2013 e, mais importante, se renderá frutos à torcida alvinegra.

A hegemonia do eixo atingiu o seu ápice, embora a tendência é que piore nos próximos anos. Digo isso porque com o golpe aplicado sobre o Clube dos 13 em 2011 passamos a ver uma situação aterradora no cenário futebolístico nacional: os clubes passaram a negociar individualmente os valores de cotas televisivas. Sabe em que outro lugar do mundo isso acontece? Na Espanha. Isso mesmo, naquele país onde a liga principal de futebol é disputada por dois time hegemônicos. O interessante é notar que, ali, os valores totais recebidos são menores que em outras ligas europeias, incluindo a francesa. Os dados que tenho aqui são de 2010, mas acredito que são suficientes pra vocês terem uma ideia do que estou falando.



                             

Como pode ser percebido, na Espanha os dois clubes hegemônicos recebem um valor mais do que três vezes maior do que o do terceiro colocado. Uma disparidade assustadora. Nas outras três ligas apresentadas a diferença do time que recebe mais não é tão maior assim do que a do time que recebe menos. No caso da Inglaterra, que para mim é o modelo de gestão de liga mais interessante, o primeiro clube não chega a ganhar o dobro do último clube. Mas o que, então, permite que essa distribuição seja feita de forma mais justa? Antes de responder essa pergunta faço um convite para analisarmos a situação atual das cotas televisivas no Brasil, como visto no gráfico a baixo:



Esses valores dizem respeito, justamente, ao momento de transição, quando os clubes passaram a negociar individualmente com a Globo. Até então podíamos ver uma distribuição mais igualitária, onde o Corinthians, time que recebe os maiores valores, não chegava a receber o dobro do Atlético Mineiro. Atualmente o Corinthians recebe trêz vezes mais que o Atlético. Notem que estou aqui mostrando apenas 10 dos 20 clubes Brasileiros, lembrando que os times menores, aqueles que recentemente sofreram o acesso a primeira divisão, recebem valores ainda mais desiguais. É assustadora a nossa situação, embora não chegue ainda no nível da vergonhosa Liga Espanhola.

Mas, diante desse cenário aterrador, onde seremos obrigados, provavelmente, a assistir nossos times se tornarem meros coadjuvantes, será que podemos pensar em alternativas? É claro que sim! Os times brasileiros que são desfavorecidos nessa história toda contam com um número de torcedores considerável e, juntos, conseguem sim fazer frente aos times mais favorecidos. Não acho que isso vá acontecer, sobretudo porque tenho a impressão que a burra rivalidade regional que vemos por aí impede que os times operem em conjunto por uma causa comum. Mas se os dirigentes conseguissem se organizar politicamente eles poderiam começar a fomentar uma liga privada, aos moldes da Premier League. Para quem não sabe, a Premier League é uma corporação, ou seja, ela rompe com o modelo federativo que vemos hoje no Brasil.

Na Liga Inglesa os valores de cotas são distribuídos da seguinte maneira: 70% dos valores são divididos igualmente dentre todos os acionistas (acionistas são os 20 clubes que encontram-se na série A). 15% dos valores são divididos de acordo com a audiência atraída pelos clubes. Por fim, os últimos 15% são distribuídos de acordo com a performance do clube na última competição. Ou seja, o último campeão receberá valores maiores que os últimos colocados dessa fatia (15%). Isso permite uma distribuição mais justa e que ainda opera meritocraticamente. Estamos aqui falando do modelo mais bem sucedido do mundo, que rende o maior número de vagas para a UEFA Champions League, além dos valores mais altos de cotas televisivas do mundo, quase 4 vezes maiores que o segundo colocado. É óbvio que existe disparidade na Liga Inglesa, com uma supremacia assustadora do Manchester United, com os clubes pertencentes a milionários correndo por fora, vencendo um ou outros título ao longo dos anos. Mas essa desigualdade é fruto de patrocínios, modelos mais eficientes de gestão e, se vocês acompanham a Liga Inglesa sabem do que estou falando, merecimento. Afinal, o Manchester é o time de futebol mais poderoso do mundo, sendo equipe esportiva mais valiosa do mundo. Mas mesmo o interesse de bilionários na Premier League é fruto do campeonato de qualidade que eles possuem lá, que tem visibilidade internacional.

Imaginem o seguinte cenário: os dirigentes de Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio e Inter se reúnem para discutir o futuro do esporte do país. Eles decidem, então, romper com a CBF e abandonar o Campeonato Brasileiro de Futebol. Partindo disso eles criam uma Liga Privada, nos moldes da Premier League, convidando outros clubes interessados a integrarem. Eles podem aliciar outros times que tenham interesse nisso, como os clubes do Nordeste e de outros clubes do sul. Mesmo clubes Cariocas e Paulistas, que também são desfavorecidos, como a Portuguesa, Ponte Preta e Botafogo poderiam se interessar. Assim teríamos dois campeonatos, esse, disputador por Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Vasco, Fluminense e Santos, e um outros, disputado pelos outros grandes clubes, que poderia negociar os valores de cota com outras emissoras. E isso assumindo que os grandes de Rio e São Paulo não iriam se interessar em integrar a liga privada! Tenho quase certeza que o São Paulo, ao menos, mostraria interesse, tendo em vista que eles vivem tendo conflitos com a CBF. Tenho certeza que eventualmente os outros times se interessariam em integrar essa liga ou, ao menos, isso levaria a Globo a negociar de forma mais justa com os outros clubes. Uma coisa eu afirmo, com absoluta certeza. Se os times de Rio e São Paulo são favorecidos, saibam que os dirigentes dos times que torcemos são coniventes, pois existem sim alternativas ao modelo vigente de distribuição e regulamentação das ligas nacionais. Isso sem contar que em uma estrutura corporativa os clubes teriam poderes equivalentes no que tange as decisões referentes ao campeonato, como calendário, arbitragem e etc, o que dificultaria enormemente os esquemas de corrupção que acreditamos que aconteçam aqui. Eu não me lembro de histórias de esquema de arbitragem na Inglaterra...



Para saber mais:






sábado, 8 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Fim de Temporada

E mais uma temporada chega ao fim no Brasil, com dois times Fora do Eixo chegando em boas posições no campeonato: segundo e terceiro lugar, mas novamente assistindo um time carioca vencer em meio a polêmicas envolvendo a arbitragem. Ano que vem nos representarão na Libertadores e, nesse sentido, vejo o Grêmio com mais chances de fazer uma boa competição, ainda que o time do Atlético seja melhor (e deve melhorar ainda mais com as gastanças desenfreadas do Kalil). Grêmio tem tradição de time copeiro, embora  viva um hiato considerável, tendo vencido sua última competição importante em 2001 (a Copa do Brasil). Sua bi-libertadores e seu mundial, entretanto, mostra que é um time de tradição, travando, inclusive, grandes duelos contra meu time (dos que eu assisti, vencemos todos, no final das contas). Já o Atlético Mineiro nunca sequer chegou a uma final de Libertadores. O Corinthians esse ano, entretanto, provou que não existe essa de tabus imbatíveis. Mas não é só por conta de tradição que diminuo as chances do Galo.

O maior problema é o Cuca.

O cara é bom, acho que o técnico que monta times que jogam mais bonito no país. Eu sei porque ele nos treinava até outro dia, e o Cruzeiro também foi vice-campeão brasileiro em 2010, disputando o título também contra o Fluminense até a última rodada. No ano seguinte, o passado, começamos a temporada sendo chamados de "Barcelona das Américas", e com razão. O futebol do Cruzeiro era plástico, eficiente, veloz e gostoso de se assistir. Mas, ao mesmo tempo, era muito dependente de um esquema muito específico, que centralizava o Montillo como armador que chegava conduzindo a bola com velocidade e assistia Wallyson e Thiago Ribeiro, que caiam pelas ponta, entrando com perigo na grande área e agredindo o gol adversário. Nesse sentido, era essencial o papel do Roger desafogando a marcação no Montillo ao auxiliar com qualidade as armações de jogada. Lindo, perfeito! Mas, e as peças de reposição? Nossos reservas ofensivos eram o Farías e o Ortigoza, que são jogadores que jogam mais centralizado dentro da área. Para o meio, não tínhamos quem substituísse o Roger, que era um jogador muito irregular. O máximo que podíamos fazer era deslocar o Gilberto de volta ao meio, mas aí perdíamos o nosso único lateral esquerdo de qualidade (que já havia ido pra posição contra sua vontade). Deu no que deu: depois de uma grande primeira fase caímos nas oitavas para o Once Caldas de forma vexatória! Cuca não testou variações táticas o suficiente e não estava preparado para as mudanças forçadas por lesões. E aí é que mora minha opinião sobre o técnico. Ele não constrói grandes variações táticas para seus times, que acabam ficando manjados.

No caso do Galo acho que a grande carência do time nessa reta final foi o Danilinho. Ele tinha um papel fundamental no estilo de jogo do Atlético, um valor tático que não era encontrado em seus substitutos. Posso estar redondamente enganado, é claro, mas tenho a impressão que depois de um tempo ficou fácil para os adversários derrubarem o estilo ofensivo do Galo que, então, passava a apelar nas jogadas de bola parada, já que possui dois zagueiros altos que sabem fazer gols. Aliás, uma carência óbvia do time é o de um centro-avante matador. O Jô faz esse tal de pivô que passaram a falar esse ano. Mas faz o pivô pra quem? Não vejo jogadores do time chegando pelas pontas com tanta qualidade na finalização. O garoto Bernard é um grande jogador, sem dúvidas a revelação do campeonato, mas não o vejo como um grande finalizador. Acho que uma análise mais acertada dependeria de mais estudo e minha disposição para estudar os números do Atlético não são as maiores, deixo isso pro Bruno, caso ele se interesse. O meu ponto é que ainda falta um certo pragmatismo por parte do Cuca para ele se tornar um técnico campeão. É uma merda esse tal de "futebol resultado" que se fala hoje em dia. Ele é enfadonho e chato de se assistir. Mas as vezes ele é necessário, sobretudo quando encontram carências no elenco.

Espero melhor sorte pro Cuca esse ano, é sem dúvida um bom técnico, mas que carece daquele algo a mais para ser campeão. Ao menos o Kalil tá dando boas condições de trabalho pro cara, incluindo um longo tempo de trabalho, para aplicação de sua filosofia.


Para o Cruzeiro, vejo o ano de 2013 como uma grande oportunidade de recomeçar o caminho das vitórias. Esse ano acho que não dava para esperar muito mais do time azul-celeste, dado a mudança na gestão do clube, que vinha de uma longa dinastia pouco transparente. O resultado é que pouco sabemos a que pé o Dr. Gilvan recebeu a equipe e por isso é muito difícil julgar seu trabalho. Não vejo, entretanto, a nona posição com maus olhos. Disputando Copa do Braisl, Sulamericana e Brasileiro vejo muitas oportunidades do Cruzeiro conseguir voltar a seu lugar de direito em 2014: a Libertadores, que já estamos tão acostumado a disputar. Embora esse fim de ano já não seja assim tão promissor.

A chegada do Marcelo Oliveira como técnico cria uma certa tensão. Apostar em seu profissionalismo para esquecer de seu passado no rival é preciso, pois se ele for recebido dessa maneira, seu trabalho estará fadado ao fracasso. O que me espanta é que o Galo recebeu tanta gente daqui nos últimos anos, e muitos foram muito acertados, como nosso ex-Capitão Leo Silva, nosso ex-técnico Cuca e mesmo o Eduardo Maluf, que eu sempre achei que era um braço direito do Zezé. Eles o receberam, e essa figuras mostraram serviço por lá. Porque não esperar o mesmo do MO? É clar que sua história com o Atlético é muito mais intensa, mas ainda assim me parece que ele vai querer fazer o melhor trabalho possível, já que sua carreira profissional dependerá disso. Ele deve enxergar essa vinda ao Cruzeiro como uma oportunidade de adicionar títulos de importância ao seu currículo, já que isso ainda lhe falta, independente de seu bom trabalho no Coritiba. Minha opinião, nesse caso, é que a diretoria não foi feliz em sua contratação, sobretudo porque não escutou sua torcida que o rejeitava em massa. Além do mais existiam nomes mais poderosos no mercado, e o Cruzeiro precisa de contratar. Técnicos de renome são essenciais para que um clube consiga fazer grandes contratações e meu medo é que a vinda do MO dite a lógica das contratações, que não serão do peso que esperávamos.




Essa situação toda me fez lembrar da chegada do Waldemar ao Flamengo, em 2006:

                                

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Último Espetáculo


Na última semana houve um rebuliço no estado do Rio Grande do Sul por conta da última sessão debaixo das lonas do Olímpico. Chamadas para o público, homenagens, emoção e promessa de uma grande tarde.
Chegada e tão esperada hora, na tarde deste último domingo, vimos um espetáculo bem diferente do esperado. Dois elencos de primeira grandeza e um público digno de tamanho estardalhaço.
Vimos de tudo que deve estar presente num espetáculo circense, começando pelo anão, representado pelo comandante tricolor que se apequenou e colocou um time com um avante  apenas. Tivemos a defesa colorada com extrema habilidade, sempre no limite, digna de um exímio equilibrista. D’alessandro segurando a bola com movimentos que podem ser comparados a um ás do trapézio. Guiñazu com a coragem e ousadia de um domador. Muriel e Renan que fizeram malabarismo para impedir o tento tão esperado pelos tricolores, tentado até mesmo com um lance de acrobata de Zé Roberto. Faltou o mágico? Não, o time de vermelho fez a mágica de segurar heroicamente o resultado mesmo com dois componentes a menos e fazer a alegria da minoria dos espectadores presentes no picadeiro adversário.
Vocês devem estar se perguntando, mas que espetáculo é esse sem os mais esperados comediantes de cara pintada? Eles estiveram presentes sim e era a esmagadora maioria. Afinal faz tempo que os torcedores do tradicional rival da Azenha são feitos de palhaços por um time que sempre fica no quase, fazendo até mesmo que eles se conformem com tão pouco. A imortalidade tão propagada pelas bandas de lá serve como a maquiagem para esconder a escassez de conquistas dos últimos anos. Novamente isso ficou nítido ao perderem, no descer das lonas, a vaga direta para a grande turnê sul-americana, visto que se quiserem figurar nela, vão ter que fazer ao menos mais duas audições.
Ao fim de tudo o respeitável público colorado saiu feliz com a apresentação dos seus artistas, que puderam, ao apagar das luzes de 2012, mostrar ao menos que são dignos de continuar fazendo parte da companhia.